E o resto que mal conseguimos verbalizar de tão intenso?

      
    
  E é nesse turbilhão de emoções e até a falta delas que nos reencontramos. E é na calada da noite que a solidão é nossa melhor amiga. A inspiração surge, assim como os questionamentos, as contradições e todo o resto.
      Tecnicamente a vida é feita de teorias, estudamos filosofia e sociologia para entender as relações sociais, a importância da cidadania, do mundo do trabalho e até a função de instituições como igreja, estado, família e casamento na formação do individuo na sociedade.
     Mas e o resto, por que não vem com manual de instrução? E o resto? Que é tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias e emoções. Ora meia dúzia de normas pré-estabelecidas não dão conta do recado. Impossível entender o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós. Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um inquietante desespero.
     As concepções são de que o amor é certo e o ódio é errado, mas e o resto? É a montanha de outros sentimentos intensos, que contradizem as regras do bom comportamento. Existem segredos guardados no fundo da gaveta que mudariam completamente a nossa versão da história, caso viessem em público.
     Todo o resto é muita coisa. É nossa ausência de incertezas, nossos silêncios inquietantes, a pureza e a inocência que ficam mantidas dentro de nós, mas que ninguém percebe porque não conseguimos expressar além do papel e caneta que ficam guardadas as sete chaves no fundo da gaveta. 

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